Na última década Lisboa tem sido apontada inúmeras vezes como uma cidade propícia à criação e desenvolvimento de novos negócios. O empreendedorismo passou de “miragem dos anos 1990” – como dizia Pedro Rebordão, Diretor de Marketing e Inovação do LISPOLIS em conversa com a Made of Lisboa, a febre do novo século com todo um ecossistema a crescer a um ritmo sem precedentes, levando a comparações mais recentes com Berlin ou até mesmo… Silicon Valley.
E se as comparações podiam trazer anexadas uma pressão e expectativas difíceis de gerir, como bons portugueses que somos na arte de desenrascar e de superação fomos construindo aos poucos aquilo que hoje vislumbramos como um ecossistema único no mundo. Já dizia Cristiano Ronaldo “o Empreendedorismo é como o ketchup”. Ups, os “golos são como o ketchup”, assim é que é! Porém a conclusão de CR7 aplica-se a ambas as metáforas, “Quando aparece, aparece tudo de uma vez”.
Na criação e consolidação destas novas ideias e negócios existem players no mercado criados com o objectivo de dar suporte aos novos empreendedores. Falamos das incubadoras, importantes polos para o surgimento de novas ideias, novos negócios, novas formas de pensar e ver o mundo em constante mudança e mutação. Sejam públicas e/ou privadas, estes “ninhos” tratam de providenciar recursos e matérias a quem deseja iniciar uma nova etapa da sua vida, a etapa do empreendedorismo.
Em Lisboa são dezenas de incubadoras disponíveis para acolher o teu negócio ou pequeno sonho, como preferires apelidar, dependendo da área de atuação, fase do projeto e objetivos.
A cidade de Lisboa tem no seu “cardápio”, além de ótimas sardinhas, um vasto leque de ofertas no que diz respeito a incubadoras. Desde a criatividade, passando claro pela tecnologia e as áreas de impacto social e cultural, a capital portuguesa está preparada para dar suporte a quem deseja iniciar uma nova “fase empreendedora”.
Pitches, programas de aceleração, mentoria ou investimento são conceitos que vais ouvir diariamente e fazem eles também parte da génese de muitas destas organizações.
Para conhecermos melhor esta parte do ecossistema, visitamos durante 1 mês algumas das incubadoras mencionadas anteriormente num “pequeno guia” da cidade de Lisboa, em parceria com o Shifter, com o propósito de ouvir pela voz dos próprios intervenientes onde estão afinal as diferenças entre os diversos spots e recolher algumas filmagens dos espaços.
Começamos porventura pela mais conhecida. A Startup Lisboa é uma das incubadoras com mais reconhecimento da cidade. A incubadora surge em 2012, resultado do orçamento participativo de 2009/2010, ou seja, foi uma escolha dos próprios lisboetas.
A principal missão da Startup Lisboa é fomentar o desenvolvimento da iniciativa empresarial e a criação de emprego, através da combinação de infraestruturas e serviços de apoio especializados.
Apresenta-se como uma associação privada sem fins lucrativos que conta com três entidades fundadoras: Câmara Municipal de Lisboa, IAPMEI e Montepio. A Delta Cafés e a consultora Roland Berger juntaram-se recentemente à estrutura.
Atua sobretudo nas áreas de tecnologia, comércio e turismo.
A criatividade e inovação são transversais quando falamos de empreendedorismo, porém existem espaços dedicados a estas áreas em particular, como o Centro de Inovação da Mouraria ou o Village Underground Lisboa.
O CIM apresenta-se como a primeira incubadora de Lisboa a apoiar projetos e ideias de negócio das indústrias criativas, em especial nas áreas de Design, Media, Moda, Música, Azulejaria, Joalharia, entre outras.
Aposta numa proximidade com o bairro da Mouraria e a cidade de Lisboa através de diversas iniciativas e projetos sociais em parceria com a CML além de ser um ponto de encontro para diversos criativos da cidade.
O espaço dispõe de postos de trabalho totalmente equipados, uma ampla rede de mentores, formação e consultoria à medida, acesso a soluções de financiamento e apoio à comercialização de produtos e serviços. A incubação física tem o custo de 100€ + IVA, tendo um período máximo de incubação de 4 anos.
O Impact Hub Lisbon está instalado no Museu do Carris na antiga sala de refeições dos funcionários da empresa de transportes.
A organização nasceu em Londres em 2005 como uma resposta aos objetivos das Nações Unidas, em prol de um desenvolvimento mais sustentável e mudança de mentalidades mediante um empreendedorismo de impacto. Atualmente está presente em mais de 80 cidades, tendo o Impact Hub assistido ao nascimento de mais de 1200 startups, permitindo a criação de 3500 postos de trabalho a tempo inteiro; e com mais de 15 mil membros a nível mundial.
Os preços podem variar entre 3 euros por hora e os 380 euros por mês, conforme as necessidades de espaço e da empresa/ empreendedor incubado. Ao ser membro de um Impact Hub podes usufruir dos seus serviços em qualquer um dos espaços a nível mundial, pagando a diferença de valores.
O Impact Hub Lisbon procura inspirar a comunidade através de eventos, muitos deles de carácter informal mas também com diversos programas de carácter social como por exemplo workshops e formações pessoas desempregadas.
Mesmo ao lado do Impact Hub encontra-se o Village Underground Lisboa. Apesar de não ser uma incubadora, oferece condições muito semelhantes em determinados aspectos como a mentoria, mesmo que informalmente, a envolvência com os incubados, a cedência de espaço e a oportunidade de estar num ponto estratégico onde acontecem muitos eventos do ecossistema empreendedor da cidade e não só.
Com estilo “arquitetónico” muito característico, é composto por 14 contentores marítimos e 2 autocarros para pessoas com mobilidade condicionada.
O Village Underground Lisboa apresenta-se como um espaço de cowork para actividades criativas, bem como um local ideal para eventos culturais ao ar livre. No total são 60 lugares disponíveis para quem quer trabalhar neste espaço.
Quando queremos ir ao inicio desta ebulição convém falarmos do LISPOLIS. Caso contrário seria tentar contar a história de Portugal sem mencionar D. Dinis. Esta associação privada sem fins lucrativos, constituída em 1991, desenvolveu o primeiro pólo tecnológico português em Lisboa.
Uma iniciativa impulsionada pelo professor José Veiga Simão, Ministro da Indústria em 1991 e mais tarde presidente do INETI, que decidiu criar uma área adjacente ao campus de INETI para acolher as startups que fossem originadas dos projetos de investigação na área de engenharia e tecnologia.
A área do polo tecnológico em Telheiras, freguesia de Carnide, tem cerca de 12 hectares, com 26 lotes, ainda continua em expansão. Com mais de 100 empresas instaladas, 1500 postos de trabalho qualificados e um número de associados importante.
As condições dependem da atividade da empresa. Quanto mais tecnológica for melhores serão as condições de instalação. Uma startup pode chegar a pagar menos 50% se for tecnológica. O custo do aluguer do espaço depende do número de metros quadrados.
Embora não seja uma incubadora na sua génese, a Beta-i já foi considerada a incubadora chave de Lisboa pela revista norte-americana Wired, o que revela muito do seu ADN.
A Beta-i é uma organização criada para impulsionar o empreendedorismo, e sua missão é promover uma verdadeira cultura de inovação. Procura ajudar empresas novas e consolidadas a crescer, oferecendo serviços de inovação 360º com 6 áreas principais: Aceleração, Eventos, Corporativa (Inovação e Inovação Aberta), Educação, Investimento e Hub. Mais do que uma incubadora a Beta-i é uma “criadora” de Programas de aceleração.
A Beta-i gere o Smart Open Lisboa (SOL), um programa da CML para startups, testarem e validarem soluções inovadoras feitas para melhorar a vida da cidade em diferente sectores. É uma das aceleradoras de startups mais activas da Europa, tendo recebido desde 2010 mais de 6700 inscrições os vários programas contribuindo para a aceleração de aproximadamente 1000 startups.
A beta-i organiza diversos eventos abertos e de cariz mais casual como por exemplo o Thank God it’s Friday.
Luís Reis e Paulo Chainho apresentaram-nos o Programa ENTER da Altice Labs, um projecto focado na Investigação e Desenvolvimento na área tecnológica e B2B, localizado na Rua de Campolide.
O ENTER recebe sobretudo startups da área das telecomunicações e serviços complementares, procurando empresas com produtos próximos do seu estágio final.
A incubação pode ser física ou virtual e está aberta a empresas de todo o país. A candidatura é realizada através do portal, depois segue-se uma entrevista e uma pré-seleção. Depois de selecionado procura-se por um mentor. A incubação pode ser física como virtual.
Não existe uma mensalidade a pagar pela utilização do espaço cowork. O Programa ENTER mantém também uma grande proximidade com universidades e projetos europeus tendo a mentoria e portfolio como grandes “armas” desta incubadora.
A Bright Pixel é um venture studio onde o “Sucesso é a consequência do falhanço” e a as pessoas são a chave do sucesso, sendo a relação com talento um factor primordial no trabalho desenvolvido por esta equipa.
Equipa + Talento = Orgulho
No edifício da Bright Pixel trabalham cerca de 50 pessoas, sendo que 22 fazem parte da equipa, e as restantes de startups incubadas. O facto de ser uma equipa que já trabalha junta há muito tempo reflecte-se numa enorme transparência entre todos os colaboradores que trabalham mediante uma estrutura horizontal, sem grandes cargos hierárquicos e funções xpto mas sim mediante uma cultura Bright.
Após 20 anos de Sapo, Celso Martinho queria mudar de vida, porém continuar ligado à inovação e empreendedorismo. A rede de contatos de Celso traz consigo o talento e a experiência necessários para alavancar este projeto. A Sonae surgiu como a parceira perfeita para fazer nascer a Bright Pixel.
Não existe tempo máximo de incubação nem valor a pagar pelo espaço cedido.
A Bright Pixel tem também um espaço, com capacidade para 40 pessoas, disponível para a comunidade empreendedora da cidade de Lisboa utilizar para os seus eventos de forma gratuita, desde que mantenha alguma relação com a área de atuação da Bright Pixel. O Pixels Camp apresenta-se como um dos grandes eventos anuais deste venture studio.
Um ecossistema vale pela complementaridade entre os intervenientes e esse é um dos pontos fulcrais no desenvolvimento da cidade de Lisboa, nomeadamente no que toca à incubação de empresas.
Se a tua startup é da área tecnológica sabes que tens locais onde ir, incubadoras que te vão dar os alicerces e apoios necessários para tua escalada. Se a tua cena for impacto social ou criatividade tens outros spots onde ir.
Esta complementaridade é reconhecida pelas próprias incubadoras que, muitas vezes solicitadas para incubações, tratam de reencaminhar o contacto para outra incubadora de Lisboa mais “qualificada”.
Embora o nosso ecossistema seja relativamente jovem, existem várias opções na comunidade para te ajudar: incubadoras de todos as maneiras e feitios. Qualquer que seja a porta onde fores bater, alguém te vai ajudar!
P.S. Este é um artigo em constante mutação, por isso se a tua incubadora (ainda) não está presente entra em contato connosco. Teremos todo o gosto em agendar uma visita para conhecer o espaço e os seus intervenientes à semelhança do que foi realizado com as primeiras incubadoras mencionadas neste artigo.