A tour da Lisboa Unicorn Capital dedicada às mulheres no empreendedorismo decorreu no final do mês de março no novíssimo espaço do Impact Hub Lisboa, localizado na zona da Penha de França. Sendo uma organização cujo core da sua atividade está ligado ao apoio ao empreendedorismo com impacto social, não foi de estranhar que a tour promovida em parceria entre o IH e a Câmara de Lisboa registasse casa cheia. Desta feita, com um público maioritariamente feminino. Aliás, o trabalho conjunto entre Câmara e o IH na área da empreendedorismo feminino não é novidade, lembrou o anfitrião Francesco Rocca, ao evocar o projeto, “Mulheres com Impacto”, que ajudou a capacitar 50 mulheres empreendedoras ibero-americanas.
Anabell Mora Acevedo, CEO & Founder da The Equivalence, Cíntia Mano, CEO na COREangels e Vânia Pinheiro Fortes, CEO & Co-founder da Jupiter App estiveram à conversa, analisando vários aspetos do empreendedorismo no feminino, com a moderação de Elena Anton, Diversity and Inclusion Project manager no Impact Hub Lisboa.
Quais os principais desafios que se colocam a uma empreendedora? Como é que ela faz o seu trajeto? E as dificuldades? Como as ultrapassa?
Cíntia Mano é uma business angel muito preocupada com as startups early stage, nas quais investe. Com o conhecimento que adquiriu ao longo dos anos neste meio tão singular, consegue fazer uma radiografia fiel do quotidiano das mulheres que têm projetos em mãos e querem prosseguir com eles rumo ao sucesso. “Acima de tudo o que as mulheres precisam é de visibilidade. Essa, é uma das estratégias essenciais para que o resto da comunidade fique sensibilizada e conheça o trabalho que as empreendedoras são capazes de desenvolver. Participar em eventos, e integrar-se nas comunidades. Todas são estratégias útéis para mostrarmos o nosso trabalho e as nossas competências”, sublinhou.
Resiliência e persistência, são qualidades invariavelmente associadas às mulheres empreendedoras, apontou esta responsável. “Caímos e levantamo-nos”, disse Cíntia. Aliás, esta tem de ser a postura a adotar, acrescentou. “Apesar de termos sempre quem nos aponte as dificuldades do nosso percurso e não nos incentive, apesar de, por vezes, os founders masculinos olharem com alguma desconfiança as investidoras mulheres, apesar de enfrentarmos atitudes paternalistas por parte de alguns elementos masculinos da comunidade, não baixamos os braços, resistimos e procuramos destacar o valor do coletivo das mulheres, mesmo quando estamos em desvantagem numérica em diversos contextos”.
Para Vânia Pinheiro Fortes, a mudança perante a condição atual do empreendedorismo feminino no nosso país, também tem de acontecer nas organizações e instituições, “Se somos investidoras no Reino Unido, temos incentivos e apoios. Em Portugal, somos sujeitas à cobrança de impostos. Por isso, Portugal ainda tem muito que aprender com estes países. A pandemia conseguiu operar algumas transformações, embora ténues, sobretudo junto das pessoas das gerações mais jovens que estão agora mais sensíveis a estas questões. Resta por isso, como se vê, sensibilizar governos e outras instituições”.
Neste contexto de algum antagonismo, em que homens e mulheres ainda se posicionam de lados diferentes das barricadas, a sororidade é naturalmente invocada: “Temos de valorizar as cumplicidades e entreajuda que se criam na comunidade empreendedora feminina, pois todas acabamos por enfrentar problemas, mesmo que, por vezes, eles tenham natureza diferente”, destacou Anabell Acevedo.
As mulheres empreendedoras reivindicam para si o mesmo tratamento que os homens enmpreendedores têm neste “mundo”. “Queremos que acreditem nas nossas capacidades e potencialidades e que não subsistam preconceitos e clichés. Somos mais do que empresárias de lifestyle. Temos muitas ideias e somos capazes de as desenvolver e de conduzir os nossos negócios e não é por sermos muito “bossys”, nem autoritárias”; é porque também somos boas a faze-lo”, sublinhou Cíntia.
Dado o evidente desequilíbrio em termos de paridade que ainda se verifica no ecossistema empreendedor, o tema da existência de quotas ainda se coloca, sustentaram as participantes no debate. “Há áreas em que as startups ainda são muito masculinas, como as fintech, por isso é preciso incentivar e criar condições para que as mulheres tenham igualdade de oportunidades”, acrescentou.
Em jeito de conselho e de conclusão Cíntia Mano deixou estas palavras: “Não gastem a vossa energia a tentarem adaptar-se. Se só vos dão apoio para os vossos projetos por causa dos vossos “lindos olhos”, saiam dessa! vocês não precisam disso”.
Num contexto ainda marcadamente desequilibrado, a promoção da igualdade de oportunidades continua atual e merece a atenção e o apoio de todo o ecossistema empreendedor. A diversidade é muito relevante, não só por uma questão de paridade, mas também e, sobretudo, porque constitui ela própria um fator incontornável para o progresso económico de uma comunidade. As mulheres empreendedoras devem ser reconhecidas pelo seu talento e não por estereótipos. E é num mundo assim que todos e todas queremos viver.