O projeto FlashGuard representado por Gonçalo Ribeiro ganhou, no dia 27 de de novembro, o primeiro prémio, (prémio pecuniário de 4000 euros) da 3ª edição do Programa de Aceleração de Negócios – LISPOLIS IGNITE – que visa apoiar as startups a desenvolver os seus modelos de negócio. O jovem investigador que integra a equipa Particles4Health, do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, (LIP) instituição de referência em Portugal na área da física de partículas experimental, foi a escolha do júri a partir das 11 startups que participaram nesta iniciativa promovida pela Lispolis, Associação para o Polo Tecnológico de Lisboa, em cuja direção está representada a Câmara Municipal de Lisboa.
“A Flash é uma tecnologia já bastante conhecida e utilizada no âmbito da Física de Partículas, porém, é a sua aplicação direta na radioterapia, em oncologia, que torna este projeto disruptivo face à abordagem convencional utilizada nos tratamentos do cancro. A radioterapia Flash é uma técnica promissora e o seu fator diferenciador reside precisamente no facto de a radiação ser administrada em frações de segundo, o que pode ajudar a proteger o tecido saudável. O tratamento ocorre em menos de um segundo e um dos principais desafios é monitorizar o feixe nessa escala de tempo extremamente curta. E «o “nosso” dispositivo faz precisamente isso», conta o investigador do LIP, acrescentado que já estão a decorrer testes pré-clínicos.
Os planos da equipa Particles4Health – composta pelos professores Patrícia Gonçalves, Pedro Assis e por Bernardo Tomé, Gonçalo Ribeiro, Carolina Miranda e Gonçalo Roriz – a qual está na génese do projeto FlashGuard, é que este transponha as fronteiras do meio académico e laboratorial e passe a ser integrado como um novo componente, um dispositivo tecnológico nas máquinas de radioterapia utilizadas em meio hospitalar. “Estamos na fase do desenvolvimento do produto e, para tal, temos, entre outros apoios o da FCT (Faculdade de Ciências e Tecnologia) e da Fundação “la Caixa”. Contamos depois, numa fase subsequente, associarmo-nos a uma entidade, a uma empresa que produza em maior escala a nossa tecnologia e também a empresas que produzam máquinas de radioterapia. Esperamos ter tudo licenciado dentro de três anos”, sublinha Gonçalo Ribeiro.
Para este “físico e empreendedor” de 23 anos, natural de Famalicão, e que é a face visível do projeto, eventos como o LISPOLIS IGNITE têm a virtude de “contribuírem para a divulgação de projetos inovadores e ajudam nos contactos com decisores nacionais, permitindo-nos ter uma visão mais integrada”, acrescenta. É, pois, de apoios que falamos quando falamos de incentivos, reconhecimentos e prémios. “A gente faz o melhor que pode. E em Portugal, até há muito talento. Mas… depois há sempre o problema do financiamento, que é crónico. Olhemos para os Estados Unidos e China, por exemplo. São países que investem muito em “ventures”, perto de 90 por cento. Ao passo que a Europa não passa dos 10 por cento. E isso diz tudo”, afirma.
O Demo Day do LISPOLIS IGNITE, onde 11 startups participantes no programa se apresentaram em pitches de 4 minutos, marcou o encerramento da 3.ª edição desta iniciativa, que direcionou pela segunda vez o foco à área Healthtech.
Além do vencedor, FlashGuard, o júri do Demo Day – integrado por Vítor Crespo, do Health Tech Lisboa, Isabel Neves, advogada e investidora, Joana Vaz, investigadora e founder da Ophiomics, José Vale, do IAPMEI e Luís Caldas de Olveira, IST/Lispolis – selecionou para o segundo lugar, com um prize money de 2000 euros, o projeto Flash Rapid Diagnostics, um dispositivo de diagnóstico rápido, concebido por uma startup que promete que no espaço de uma hora é possível detetar com fiabilidade a presença de bactérias multirresistentes em doentes internados em meio hospitalar ou institucionalizados em ERPI( Estruturas Residenciais Para Idosos).
Em terceiro lugar, ficou posicionado o projeto Enterprise Bot, uma plataforma multicanal que utiliza Inteligência Artificial para estruturar e organizar dados e informação na área clínica, permitindo com grande eficiência a marcação de consultas, a redação de relatórios, gestão de utentes, etc. Este projeto foi contemplado com um ano de mentoria e incubação gratuita na Lispolis.
UpSpeech, Balvia Ecosystems, Exercogs, Consenth, Mena.ai, Reabilitar em Casa, Hopli e Lyvoo foram as restantes startups que responderam ao desafio de apresentar os seus produtos nas áreas da Inteligência artificial e machine learning, automação e robótica, telemedicina e saúde digital, medicina de precisão e terapias avançadas, saúde mental, MedTech e dispositivos médicos, tecnologias para cuidados domiciliários e envelhecimento e nutrição.
António Cardoso Pereira, presidente do conselho de administração da Lispolis, destacou a grande “diversidade e qualidade” das startups e dos respetivos projetos que participaram em mais uma edição do LISPOLIS IGNITE,o qual contou com o CNS – Campus Neurológico e SGS como patrocinadores oficiais. Com 35 anos de existência, a Lispolis é mais do que um parque tecnológico. “Somos acima de tudo uma comunidade. E, nestes 12 hectares onde vivem mais de 100 empresas e 2 incubadoras há um verdadeiro ecossistema de saúde aqui instalado. É isso que queremos ser: um hub tecnológico de Saúde”.
Recém premiado em Copenhaga, também por causa do FlashGuard, Gonçalo Ribeiro, que antes de entrar na faculdade hesitou entre a Medicina e a Física, considera-se um privilegiado por estar a fazer o que mais gosta: investigação direcionada para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. “Se já tiver contribuído para isso com o trabalho, fico mesmo muito feliz. Haja prémios, ou não. É que eu conheço de perto o sofrimento das pessoas.”
