O estabelecimento de metas temporais no processo de transição para atingir a descarbonização em diversos setores da atividade económica é a cenoura que tem estugado o passo às empresas – grandes e pequenas – e servido de inspiração àquelas que laboram na inovação em soluções tecnológicas de sustentabilidade.
A primeira Lisboa Innovation Tour de 2025 decorreu a 16 de Janeiro no Greenhub by Unicorn Factory Lisboa deu a conhecer exemplos de startups que já começaram a dar passos seguros nesta caminhada e querem colher os seus frutos.
O hub dinamizado pela Unicorn Factory Lisboa em parceria com a Critical Software, Grupo Brisa e Mota-Engil, dedicado ao vertical sustentabilidade, e que tem como manager Sofia Dias Lopes fica situado na zona de Entrecampos e acolhe 16 startups tecnológicas (scaleups) da área da sustentabilidade, com 110 postos de trabalho.
Cada vez mais os problemas associados às emissões de carbono preocupam transversalmente a sociedade. A comunidade empreendedora não é alheia ao tema e tem sido precisamente a partir daqui que têm surgido soluções tecnológicas inovadoras para reduzir ou eliminar esses problemas.
Ángela Oropesa Román, COO na Emissium, e participante nesta discussão dedicada aos desafios e oportunidades que se colocam à comunidade empreendedora explicou, perante uma plateia interessada, que a sua empresa trabalha com clientes internacionais, dedicando-se à recolha e tratamento de dados em tempo real sobre a pegada de carbono associada ao consumo eletricidade nos processos produtivos. “Trata-se de uma ferramenta essencial para detetar disfuncionalidades, e é fulcral para sustentar a tomada de decisões de gestão, corrigindo ou antecipando medidas”.
A ZeroPact, startup fundada por João Pedro Morgado, recorre à Inteligência Artificial para calcular a pegada de carbono que a produção de determinado artigo implica. Por exemplo, “é possível, através da nossa solução, fazer o tracking das emissões de carbono envolvidas no fabrico de uma peça roupa de qualquer cadeia de fast-fashion. Desde a escolha da matéria-prima, até ao momento em que uma camisola chega a casa do consumidor”, acrescenta João Pedro Morgado.
“Que formas temos então de saber com fiabilidade, nós consumidores, qual a pegada de carbono associada aos produtos que adquirimos?”, questionou Sofia Dias Lopes lançando o repto aos interlocutores no debate. Se, atualmente, os rótulos dos produtos alimentares já contêm obrigatoriamente a informação nutricional importante para decidirmos melhor o que escolher, é natural que a transparência sobre a pegada de carbono associada à produção de outros artigos venha a assumir igual importância.
“A existência de um selo, uma etiqueta, um passaporte digital que contenha tal informação (ainda não é mandatório) é o ideal. O consumidor, esse, deve ser exigente e fazer compras conscientes e sustentáveis”, acrescentou o responsável da ZeroPact. Mas, tudo isso não chega, “há que estar atento ao greenwashing por parte de algumas empresas menos escrupulosas”, sublinhou Luís Rebelo da Cleantech for Iberia .
Escala é fator importante neste setor. Por isso, a Cleantech for Iberia, congrega inovadores, investidores e decisores de políticas de tecnologia limpa em contexto de ecossistema ibérico, conferindo-lhe um potencial como centro de energia limpa da União Europeia e um local de destaque para a indústria limpa”, explicou a propósito o Policy Manager desta comunidade.
Em Portugal, já há muitas empresas preocupadas com a descarbonização. Através da sua experiência, Luís Rebelo deu exemplos de algumas das que já integram a Cleantech for Iberia. A Rega Energy, por exemplo, trabalha com fábricas da Marinha Grande do setor do vidro, e opera unidades de produção de biometano e de hidrogénio verde que podem complementar a parte que a eletrificação, por si só, não consegue, dando resposta às restantes necessidades energéticas. Desta forma, possibilita-se uma descarbonização profunda no setor, com a utilização de gases renováveis em grande escala.
Se o setor empresarial dá mostras de querer melhorar as suas práticas pré-existentes, há startups na linha da frente do uso de métodos totalmente disruptivos e inovadores no processo produtivo. Nesta tour ficámos a conhecer três projetos inovadores na área da sustentabilidade, desenvolvidos por startups apoiadas pelo Instituto Superior Técnico: a Terra Prima, VirtuaCrop, ambas com trabalho na área da agricultura e a TFC – Técnico Fuel Cell que está a desenvolver um protótipo único em Portugal de um carro urbano, sustentável, movido a hidrogénio com objetivo na eficiência. O verde está, por isso, a amadurecer e os frutos não tardarão a ser colhidos.