A Inteligência Artificial, qual Big Brother, está presente em todo o lado e já faz parte há muito do quotidiano das nossas vidas. A época em que os computadores eram máquinas simples, capazes de executar apenas algumas operações básicas já lá vai. Hoje, conseguem aprender os nossos gostos, identificar tendências e tratar informação em tempo real para tomar decisões e automatizar, imitando o processo cognitivo humano.
Além do Chatgpt, do deepfake e da inacabada música dos Beatles, terminada após a morte de John Lennon há mais de 40 anos, a IA é uma ferramenta que pode revelar-se muito útil noutros campos. Através do processamento de dados, desenha tendências, pode até antecipar cenários e fazer analítica. A Inteligência Artificial é tão versátil que até trata dados comportamentais dos humanos, qual psicólogo de serviço.
De acordo com André Santana, da BI4all, anfitriã da tour Lisboa Unicorn Capital de abril, “a inteligência artificial, através do algoritmo, extrai tendências, encontra padrões. Por exemplo, é muito boa a fazer o tracking do comportamento dos clientes numa linha de supermercado, o que é excelente para quem está a gerir a fluidez do atendimento nas caixas”.
E acrescenta: “também é particularmente útil na gestão de stocks em armazém; com base em critérios como a procura de um produto ou o seu preço, IA permite planear o futuro com mais certeza.”
António Lopes, da Gregory MS, Jenny Romano, da Newsroom e Filinto Osório, da Unicorn Factory Lisboa foram os convidados da Unicorn Capital Tour com a missão de fazerem uma reflexão sobre os prós e contras desta ferramenta, analisaram-na a partir de diferentes perspetivas, respondendo aos desafios e questões lançados pelo jornalista da Shifter, João Ribeiro, a quem foi atribuída a tarefa de moderar o debate.
“A IA é muito útil quando procuramos uma resposta que não é nem “a certa” nem “a errada”. O problema reside a montante. Se a pesquisa parte de um determinado pressuposto, o pré-conceito sobre esse assunto já existe, e a forma como fazemos uma pesquisa, por exemplo, é influenciada. Pode não ser isenta”, sublinha António Lopes.
O rigor científico associado ao setor da Saúde – ao qual está ligado – leva António Lopes a considerar que se devem adotar cuidados redobrados quando se lida com IA. “Devemos reunir a informação a partir de várias fontes, resumir e canalizá-la para quem está a estudar determinadas doenças.”
Não é muito diferente, aliás, do que se faz na área da informação/comunicação. Jenny Romano e a sua startup de fact-checking jornalístico procura o maior número de fontes, cruza informação, procura o padrão e apresenta o seu “produto” aos clientes, na sua grande parte, empresas da área editorial. Mas “nem tudo é 100 por cento”. “A IA não é imparcial nem isenta. Então, o que fazemos na Newsroom é tentar ser o mais transparentes que é possível”, sublinha. O “perigo” da desinformação está sempre ao virar da esquina pois “a recolha de dados é um trabalho ainda muito ‘humano’”, e isso pode distorcer leituras, pesquisas e depois há os desvios à norma…
A atitude das pessoas face à IA é variada. Uns, rejeitam-na liminarmente, outros, querem utilizá-la até ao limite do recomendável, e há os que estão no meio. “Na minha opinião, os humanos devem estar sempre envolvidos no processo das notícias”, afirma Jenny Romano.
No mundo do empreendedorismo, o pragmatismo domina. Tempo é dinheiro por isso não é de admirar seja particularmente aberto à IA. “As startups são projetos muito focados, se com a IA pudermos tratar da contabilidade com maior eficácia do que com as soluções tradicionais, então, é para aí que vamos. Mas, mesmo assim, não eliminaria os humanos do processo”, conclui, cauteloso, Filinto Osório, sublinhando que há ainda muito para aprender e estudar sobre a IA. Afinal, as máquinas ainda precisam dos humanos.