A indústria dos videojogos ou jogos eletrónicos é uma das mais populares entre os diferentes setores que florescem na comunidade empreendedora de Lisboa. O primeiro Gaming Hub da cidade, dinamizado pela Unicorn Factory Lisboa, abriu as suas portas em 2024 e é totalmente dedicado a esta indústria criativa. Da parceria da CML com players importantes como a Fortis Games, a APVP (Associação Portuguesa de Desenvolvedores de Jogos) e a Maleo resultou um espaço que visa dar suporte a estúdios de jogos e startups, estimulando o seu crescimento e o da própria comunidade.
Foi precisamente neste hub, um dos quatro hubs verticais que existem em Lisboa ligados à UFL, que decorreu a tour de março Lisboa Innovation. Decorrido um ano após a sua inauguração, o Gaming Hub – a funcionar na zona do Saldanha – conta com 40 empresas que dão trabalho a 240 funcionários, dos quais 80 a trabalhar presencialmente no edifício da Avenida da República.
No dia da tour, a comunidade de gaming esteve particularmente bem representada no evento com o intuito de assistir à mesa redonda que juntou Ana Waddington Bettencourt, Manager Producer na Super Evil Megacorp; Miguel Jacinto, Co-founder & Studio Director na Phat Finger; e Pedro Cabaço, Co-founder & CEO na Volt Games, para falarem sobre os desafios e oportunidades que o gaming traz ao ecossistema empreendedor da cidade de Lisboa. Carolina Rocha, Player Community Lead na Fortis Games, lançou os tópicos para o debate.
Antes, alunos dos cursos de gaming developing e game design da Universidade Lusófona de Lisboa apresentaram num pitch bastante animado os trabalhos que têm desenvolvido no âmbito das licenciaturas que frequentam.
Para estes jovens estudantes, os maiores desafios das suas vidas profissionais ainda estão para vir. Para a economia da cidade de Lisboa, o setor do gaming representa já um dos maiores reptos que se perfilam. “Trata-se de um setor em franco crescimento e Lisboa tem potencialidades suficientes para atrair talento. Temos sol, boa comida. O único senão é ainda alguma burocracia na fase da constituição de empresas”, refere Ana Waddington ao destacar a inexistência de um enquadramento legal para esta área específica.
Quando falamos de questões de empregabilidade no setor em Lisboa, Pedro Cabaço pinta um quadro até relativamente otimista: “Contratar recursos humanos nesta área em Portugal é um grande desafio. Há talento, mas ainda não há massa crítica suficiente e ainda não há muita experiência; para conseguirmos contratar um sénior, temos de ir recrutá-lo lá fora. Porém, a Volt Games já vai buscar às universidades alguns estudantes para estagiarem e os que estão a sair destas fornadas são muito bons, têm bastante qualidade e, pode dizer-se que, seguramente, daqui a dez anos haverá um grande boom nesta comunidade.”
Miguel Jacinto faz leitura idêntica relativamente ao panorama de novos talentos a saírem das universidades: “A Academia está a formar gente com muito talento, por isso na nossa empresa abrimos estágios a muitos destes estudantes e gostamos de o fazer. Eles aprendem connosco e nós aprendemos com eles. São muito multifacetados”, sublinha. E acrescenta: “É preciso ser-se resiliente no mundo dos videojogos. Trata-se de uma indústria difícil e tem que se gostar mesmo muito. Além disso, tudo evolui rapidamente.” Por isso, Miguel Jacinto sugere aos mais novos que “apostem nas vossas soft skills e trabalhem em equipa”.
Já Pedro Cabaço é mais pragmático. Além de defender que se deve estar nesta área pelo prazer e gosto, sustenta igualmente que, a haver aspirações de profissionalização, se deve adotar desde logo “uma visão de negócio”.
“Apostar nos mobile games parece-me uma boa opção porque são mais fáceis de comercializar.”
Aliás, mobile games e videojogos concebidos para multiplataformas são as trends desta indústria que vieram para ficar. “Portugal, a par da Turquia, que tem um ecossistema muito parecido com o nosso, está a especializar-se nos mobile games. As pessoas querem sobretudo a portabilidade dos jogos.”
E a indústria está pronta a responder. Pedro Cabaço resume assim o lema desta tendência que não tardará a instalar-se: “Mobile games – cheaper, faster, easier.”