Já se tornou um lugar-comum. Lisboa é conhecida pela sua luz incomparável, pelo património e pela gastronomia. Quando à comida se adicionam a tecnologia e a inovação, a receita para atrair novos negócios e projetos disruptivos tem sucesso garantido. Pelo menos a julgar pelo número crescente das startups na área foodtech que têm vindo a juntar-se ao ecossistema empreendedor de Lisboa. Prova desse facto foi a mais recente “Unicorn Capital Tour”, dedicada a esta temática. O espaço da Delta na Matinha foi pequeno para acolher todos os participantes na iniciativa promovida pela Câmara Municipal de Lisboa.
Marta Miraldes, coordenadora do programa de aceleração “From start to Table”, Eunice Costa, da Delta Ventures, Afonso Pinheiro (CEO & Co-founder da Pleez), Emiliano Gutierres (CEO & Co-founder da Raiz Vertical Farms) e Rui Catalão (Co-founder da Kitchen Dates), analisaram os desafios e oportunidades que se colocam ao setor, a partir de diferentes perspetivas.
Num mundo tão marcado pela tradição como é o da alimentação, que mudanças podem introduzir a inovação e a tecnologia? Eunice Costa, conta como uma corporate como a Delta, vê a questão: «Uma empresa tradicional, como a nossa, encara a inovação como algo muito positivo, pois pode melhorar a tradição e isso é interessante porque a própria tradição reinventa-se. Na verdade, o que vemos é que na restauração se está a voltar para os pratos tradicionais, mas reinventados. Por exemplo, no caso da Delta, nos nossos programas de aceleração estamos a dar apoio a uma empresa para que ela consiga escalar. Trata-se de uma start-up que aposta na alternativa vegetariana. Além do refrescamento da tradição, a inovação que as start-ups trazem no caso da alimentação, pode ser útil no processo de combate ao desperdício, nomeadamente, através de novos processos de confeção”, refere esta responsável do grupo empresarial que recentemente apostou numa inovadora “quinta urbana” que produz cogumelos a partir da borra de café.
A tecnologia ajuda em tudo. Pode ser até o ingrediente secreto para o sucesso da boa gestão de um espaço de restauração. Afonso Pinheiro explica: “Trabalhamos muito com restaurantes e uma das questões/problemas que procurámos resolver foi a de tornar mais fácil e eficiente a escolha do cliente na hora de decidir o que comer. E, tanto no dine in como no delivery, um QR Code pode resolver muita coisa”.
Já o foco de Emiliano Gutierrez centra-se na inovação para a sustentabilidade: “Trazer a produção sustentável para os restaurantes, à partida, pode parecer difícil pois estamos muito habituados às cadeias de produção, porém, se pensarmos numa ótica de otimização de recursos, porque não ir buscar produtos a hortas descentralizadas. É que de alguma maneira elas contribuem também para a regeneração urbana”.
Todas estas novas formas de pensar o setor da alimentação nas suas diversas vertentes são tidas em conta no programa de aceleração da Start up Lisboa, “From start to Table”. Desde 2018, “já por lá passaram 140 start-ups, e continua a registar uma evolução muito positiva. Internacionalizou-se e atualmente mais de 75 por cento dos seus participantes são estrangeiros”, sublinha Marta Miraldes.
A qualidade do produto é fator preponderante quando pensamos no setor da alimentação e bebidas. Por isso, a literacia alimentar é particularmente importante neste contexto, destaca Rui Catalão. Vegan, vegetariano, biológico, saudável são conceitos muito diferentes que pululam nas prateleiras do supermercado e no nosso prato. Precisamos de conhecer bem o que consumimos e a responsabilidade de quem produz e trabalha no setor aumenta assim substancialmente. “Seria importante a existência em Lisboa de um laboratório na área do foodtech. Isso ajudaria muito na produção e certificação de novas propostas”, sustentaram alguns dos participantes nesta tour durante o debate que se seguiu às reflexões dos convidados. Uma ideia que ficou para digerir.