A incursão ao mundo das empresas cleantech, organizada pela Lisboa Unicorn Capital, não podia ter decorrido em melhor e mais apropriado cenário. Enquadrado pela colina da Sé, de um lado, e o Tejo, do outro, o co-work Heden – que acolheu esta tour num fim de tarde de setembro – revelou-se verdadeiramente inspirador e apropriado à temática escolhida para a conversa: o que são, como funcionam e como se posicionam estas empresas ligadas à sustentabilidade e à tecnologia? E a rentabilidade do negócio, onde fica?
Carla Portela, da Universidade Nova de Lisboa, Bárbara Leão, da 3xP Global, Filipe Reina Fernandes, da Windcredible e Federico Cristoforoni, da Net Zero Insights analisaram, a partir de diferentes ângulos, estas startups disruptivas e movidas pela inovação, que procuram com a sua atividade acrescentar valor à comunidade, reduzindo tanto quanto possível a respetiva pegada ambiental. Se os aerogeradores já fazem parte de alguma paisagem do nosso país, e cada vez mais as energias renováveis ganham importância, porque não termos turbinas produtoras no quintal da nossa casa e, quem sabe, até produzirmos e/ou vendermos energia? A Windcredible passou da ideia à prática e está em fase-piloto de produção destes dispositivos. “Queríamos fazer algo que acrescentasse valor e que não trouxesse impactes negativos. Tínhamos uma ideia de negócio, o meu sócio trouxe a tecnologia. Para chegarmos aqui aprendemos muito, fizemos mentorias, formações, criámos protótipos e agora, next step: produção. Queremos entrar no mercado em 2024″, contou Filipe Reina Fernandes.
O papel de estimular a mentalidade empreendedora a partir de uma perspetiva de sustentabilidade, esse, cabe aos investidores, sobretudo aqueles para quem a inovação, a tecnologia e o desenvolvimento económico – realidades sempre associadas a impactes negativos predatórios do ambiente não são uma inevitabilidade. “Nós investimos em quem traz mais-valias e ganhos para a comunidade, em quem aposta na sustentabilidade, por isso monitorizamos e acompanhamos as empresas que apoiamos”, sublinhou Bárbara Leão.
Lisboa tem vindo a ganhar protagonismo enquanto cidade que disponibiliza boas condições para que acolher empresas cleantech. De acordo com relatório elaborado pela Net Zero Insights, o número de startups ligadas ao setor da sustentabilidade na capital portuguesa tem vindo a registar uma tendência de crescimento. “Cheguei há 4 anos a Lisboa, em plena Capital Verde da Europa, e vejo cada vez mais gente a vir para cá trabalhar nesta área. Nómadas digitais, muitos peritos, etc. E penso que isto traz notoriedade à cidade. Lisboa pode mesmo vir a ser um player relevante na área da inovação climática”, considerou Federico Cristoforoni ao desenhar em traços largos a landscape do ecossistema empreendedor alfacinha, o qual, neste momento, aponta para a existência de mais de três dezenas destas startups. Aliás, sublinhou Cristoforoni, “o número de cleantechs em Lisboa está acima do da média europeia, se o compararmos com outras cidades”, acrescentou.
Carla Portela, que assumiu a moderação desta conversa, lançou ainda uma questão: «O que devem fazer as autoridades locais da cidade para que Lisboa acolha mais destas empresas e seja simultaneamente uma cidade mais sustentável?» A promoção do debate e da consciencialização da importância da sustentabilidade no nosso quotidiano foi uma das «medidas» que mereceu a concordância dos participantes. Porém, para Federico Cristoforoni, “É preciso também investir. Investir não só financeiramente, mas também continuar a apostar nestas startups, criando mais condições para que empreendedores do setor venham e permaneçam”.